O EVENTO
Os dias 04, 05 e 06 de Março 2016 foram palco de mais um Mercado Gourmet do Campo Pequeno, evento sempre aguardado com alguma expectativa por enófilos e gastrónomos em geral. Este é um evento que convida à descoberta de novos sabores, texturas, e para os enófilos, representa uma boa oportunidade não apenas para conhecer alguns novos projectos, mas também para voltar a provar vinhos e conversar com caras bem conhecidas do ramo vitivinícola nacional.
Nesta edição de 2016 e à semelhança do que já tinha acontecido em 2015, o primeiro piso do Campo Pequeno recebeu cerca de 40 produtores e representações comerciais, entre vinhos, licores e azeites, ficando o piso térreo destinado aos produtos alimentares como compotas, queijos, enchidos, chocolates, doçaria variada ou mel.
VINHOS EM PROVA
O Copo Meio Cheio fez-se representar neste Mercado como habitualmente, e provámos algumas coisas bem interessantes das quais vos deixo a seguir as minhas principais notas. O destaque em formato Top 3 vai para alguns vinhos raros (e outros menos raros) comercializados pela Garrafeira Estado d'Alma, para as muitas referências em prova do produtor Fita Preta / Maçanita e ainda para uma novidade absoluta: Quinta da Confeiteira.
Provámos ainda os vinhos de Rui Virgínia da Quinta do Barranco Longo (Algarve), que se mostraram em boa forma (nomeadamente o Remexido Branco); os brancos da empresa Morais Rocha (JJ Branco 2012 e Herdade dos Veros 2012) vindos do Alentejo, os vinhos da Quinta dos Plátanos, com a base dos brancos assente no Arinto (vinhos com alguma austeridade mineral, bem desenhados); os vinhos durienses Ouro do Monte; os alentejanos biológicos da Herdade dos Outeiros Altos (do Monte da Tapada Nova em Estremoz, vinhos francos e directos, sem artifícios, mas aos quais falta alguma complexidade - destaque para o branco feito com uvas tintas) e ainda alguns dos tintos DOC Douro Vasques de Carvalho (Oxus 2012, XBardos 2012 e Velhos Bardos Reserva 2013).
Garrafeira Estado d'Alma
Em ambiente descontraído e sempre com a conversa muito animada à volta do tema do costume, provámos com o Tiago Paulo e com o João Chambel alguns vinhos dignos de registo, nomeadamente pelo prisma da diferença, curiosidade e surpresa. Iniciámos esta pequena viagem com um desconhecido Casal da Manteiga Galego Dourado 2012 da região de Lisboa, uma raridade muito mineral mas sem excessos, um branco versátil. Depois outra raridade: Casal de Santa Maria Orange 2009, um vinho difícil de classificar, desconcertante, com o aroma propositadamente marcado pelo brett (suor de cavalo) e que garante discussão e falatório na mesa por onde passar. Depois de outras provas como a do Solar de Merufe Espumante 2001 (Vinhos Verdes), do São Domingos Garrafeira Especial 1983 Tinto (um Dão em grande forma com os taninos bem salientes e muita vida!) ou do Constantino Dão Garrafeira 1966, chegou a surpresa da prova: Niepoort Projectos Touriga Nacional 2012 (Bairrada), uma edição limitada a 2016 garrafas e exclusivamente produzida para a Garrafeira Estado d'Alma. Quem já provou o vinho talvez fique surpreendido pela minha escolha, mas passo a explicar: o que me surpreendeu neste vinho foi a expressão de terroir, aqui sente-se a região mais do que a casta, é claramente um vinho bairradino equilibrado e intenso, mais do que um monovarietal de Touriga Nacional (a expressão floral clássica da casta é harmoniosa e menos exuberante do que é costume). Junte-se a este perfil um preço muito democrático (6,95 €) e temos aqui um pequeno achado.
Fita Preta Vinhos / Maçanita - Irmãos e Enólogos
A equipa da Fita Preta presente no Mercado recebeu-nos com o entusiasmo e dinamismo que caracteriza todo o projecto. Provámos alguns vinhos dignos de relevo, nomeadamente o Sexy Cuvée Grande Reserva Tinto 2013 Explosion D'amour, que me conquistou e surpreendeu. Partes iguais de Cabernet Sauvignon e Touriga Nacional deram origem a um vinho muito intenso, altamente especiado, encorpado e personalizado. Encontra-se ainda a crescer na garrafa e o melhor momento estará para chegar (2020??). Há que esperar por ele pois desconfio que irá dar imenso prazer! Provámos ainda o Fita Preta Baga ao Sol 2013 (unoaked), o Palpite Grande Reserva 2013 Tinto (muito afinado) e o Palpite Reserva 2014 Branco (cremoso, intenso e complexo). Um projecto que continua a dar ao mercado grandes vinhos.
Quinta da Confeiteira
Em boa hora passámos pelo stand deste novo produtor, foi precisamente a última paragem antes de sairmos do Mercado e valeu muito a pena. A Quinta da Confeiteira é uma pequena propriedade de 5 hectares próxima de Évora, na zona antiga da Pêra Manca. As vinhas foram reestruturadas em 2009 e depois disso os primeiros vinhos (apenas se produzem tintos) são os da colheita de 2013, chegando agora à comercialização em 2016. O design é extraordinariamente apelativo, sofisticado e bem conseguido, diferenciando estes rótulos de quaisquer outros numa prateleira. O conceito é também original, jogando com os cinco elementos e palavras em latim que se relacionam com cada um, de acordo com o perfil do vinho em questão.
Provámos primeiro o Circii 2013 (latim para vento de noroeste - elemento do vento, PVP: 7 €), um blend de Touriga Nacional, Touriga Franca, Syrah e Aragonez, do qual se produziram 6667 garrafas. O vinho foi engarrafado em Novembro de 2014 e teve depois um ano de estágio em garrafa. Preço muito adequado para um vinho muito versátil à mesa sempre com o carácter Alentejo bem presente.
Provámos em segundo lugar o Deluto 2014 (latim para barro, elemento da terra, PVP: 13 €), um blend de Aragonez, Syrah e Alicante Bouschet, do qual se produziram apenas 2667 garrafas. O vinho fermentou em talhas e estagiou em barricas de 400L por 6 meses, sendo posteriormente engarrafado em Julho de 2015. Confesso que me impressionou o equilíbrio revelado por este vinho, onde o trabalho em talha foi devidamente equilibrado pelo estágio subsequente.
O último vinho da Quinta da Confeiteira que provámos foi o Incendi 2013 (latim para queimado, elemento do fogo, PVP: 11 €), um blend de Touriga Franca, Aragonez e Syrah, do qual se produziram 6667 garrafas (à semelhança do Circii). Um vinho que fermentou em cubas e que estagiou 12 meses em barricas de carvalho francês, tendo sido engarrafado em Julho de 2015. Um tinto que está a crescer na garrafa e que se irá revelar ainda mais intenso dentro de pouco tempo.
Confesso que o Deluto foi o meu vinho favorito da prova, embora haja um fio condutor entre as três referências, que se traduz em vinhos sérios, com muita garra e cheios de personalidade. Tintos gastronómicos, modernos e versáteis, trabalhados para expressarem o seu terroir de origem, que irão casar na perfeição com as iguarias da mesa alentejana. Muito bem. Para breve duas novidades já muito aguardadas: um vinho relacionado com o elemento da água e outro relacionado com o elemento do Céu. Cá estaremos.
E assim chegou ao final mais um Mercado Gourmet do Campo Pequeno, evento a que o Copo Meio Cheio conta voltar no próximo ano de 2017, para mais novidades e mais provas ímpares. A organização está de parabéns e a iniciativa merece nota muito positiva. Para continuar!
Sem comentários:
Enviar um comentário