A noite era de reunião, reencontro de grandes e velhos amigos, e alguns dos presentes já não estavam nesta companhia há demasiado tempo. A preparação do menu exigiu assim uma atenção especial, de modo a que a refeição satisfizesse todos os convivas, mas sem se sobrepôr ao objectivo mais importante da noite: o convívio! Como (quase) sempre acontece, o menu foi pensado para uma pequena lista de vinhos já organizada anteriormente, respondendo à tarefa sempre árdua de harmonização entre comida e vinho, para que ambos se elevem mutuamente numa experiência que se quer de excelência.
O primeiro prato do menu abriu a refeição: chamuça de alheira em cama de cogumelos salteados (na foto), uma entrada que ligou de forma alegre com o espumante Quinta de Baixo Bruto 2008 e também com o Pouco Comum Alvarinho 2011 (Quinta da Lixa). Este branco da região dos Vinhos Verdes apresentou-se com cor palha brilhante no copo, muito aromático, as notas tropicais da casta evidentes, um desfile de manga, ananás pêssego e leves sugestões de mel. Com corpo simples, acidez integrada e apenas o final de curto comprimento traiu a sua tremenda juventude, poderá no entanto evoluir positivamente em garrafa... Já o espumante bairradino mostrou aromas simples (panificação e biscoito), alguma vivacidade na boca, acidez e secura no final mediano, uma opção gastronómica que ligou bem com a chamuça.
Para o prato principal, um clássico bacalhau com natas, foram enquadrados três tintos com características bastante diferentes: Casa de Mouraz 2009 (Dão), Solar dos Lobos Grande Escolha 2008 (Alentejo) e Cavalo Maluco 2006 (Península de Setúbal), estes dois últimos decantados cerca de 3 horas antes do consumo, verificando-se que não apresentavam sedimentos no fundo das garrafas. O tinto proveniente da da Herdade de Portocarro, na zona do Torrão, foi eleito a estrela vínica da noite, uma amostra do que de melhor este terroir tem para oferecer... Destacou-se dos seus pares pela harmonia e equilíbrio demonstrados à mesa, sedução e puro prazer como palavras de ordem, taninos aveludados, pleno de sabor, com um longo final sempre com a elegância em evidência, grande vinho... Quanto ao Casa de Mouraz mostrou sabores profundos, estilo guloso, um tinto jovem onde a produção integrada em regime biológico mostra serviço, sem dúvida um vinho com uma relação qualidade-preço interessante (adquiri-o por 5,23 € no Clube de Vinhos Enoteca) que merece ser (mais) conhecido. Finalmente, o Solar dos Lobos Grande Escolha, já uma referência no Alentejo, que coleccionou alguns prémios de nomeada, com especial enfoque na Talha de Ouro da Confraria de Enófilos do Alentejo para os vinhos tintos da colheita de 2008, o mais importante dos prémios atribuídos nesta região. Confirmaram-se as desconfianças com que foi integrado na lista dos vinhos da noite, encontra-se em plena evolução na garrafa, um alentejano de bom porte, vigoroso e encorpado, sabores marcantes, cacau e fruta madura, boa acidez num final cheio de músculo e personalidade. Aconselho vivamente o consumo... mas só lá para 2014 ou mesmo 2015, estou certo que poderá dar muito prazer nessa altura. Vamos esperar pacientemente até lá!
Para as várias sobremesas, a companhia escolhida foi um Croft Platinum, que cumpriu o que se pretendia nas harmonizações, e também o que se espera de um vinho do porto desta categoria (Porto Reserva), pouco complexo mas volumoso, guloso, suaves amargos apimentados num final que não desilude ninguém.
Para terminar, não poderia deixar de agradecer a todos os presentes neste jantar, que fizeram desta noite mais uma para recordar. E já agora, aproveito para agradecer também ao José da Mota Capitão pelos extraordinários momentos com que presenteia todos os apaixonados pelos vinhos portugueses, o trabalho na Herdade de Portocarro é de excelência.
Miguel,
ResponderEliminaro Solar dos Lobos estava um "moço" ainda ... e o Cavalo Maluco tambem se podia ter esperado um pouco mais. Um e outro foram grandes momentos, ainda assim!