Mais um jantar em minha casa com uma ilustre lista de convidados, que "aconselhava" a uma escolha cuidada do conjunto de vinhos a apresentar. Decidiu-se previamente aproveitar esta ocasião para fazer uma prova horizontal de três monovarietais de Antão Vaz (todos da região do Alentejo e da colheita de 2010), um tipo de prova que desperta sempre o maior interesse e curiosidade dos enófilos, e da qual vos apresento as principais conclusões.
Em apreciação, o Antão Vaz da Peceguina 2010 (Herdade da Malhadinha Nova), o Dolium Escolha 2010 (Paulo Laureano Vinus) e ainda o Solista Antão Vaz 2010 (Adega Mayor). Foi possível verificar as significativas diferenças entre todos os vinhos apresentados, confirmando, como invariavelmente acontece, que factores como o ano de colheita, o tipo de solos, as diferentes opções enológicas no processo de vinificação e mesmo (eventualmente) os diferentes clones dentro de cada casta (com comportamentos distintos), são decisivos para o resultado final que apreciamos no copo.
O monovarietal da Herdade da Malhadinha Nova (9,50 € no produtor), esteve mesmo em muito bom nível, óptima a complexidade de conjunto e o carácter, untuosidade como principal característica, cremoso, envolvido por notas tropicais, papaia, final profundo e marcante, está num grande momento de forma. O Dolium Escolha (11,00 € no produtor), a grande expectativa da noite, confirmou a relutância que eu já tinha em abri-lo tão cedo... Este resultado da produção de vinhas velhas, fermentação em barricas novas de cervalho francês e bâtonnage durante 8 meses revelou estar ainda (muito) longe daquilo que pode proporcionar à mesa, mostrou-se discreto nos aromas, mostrando algum do potencial que inegavelmente possui na suavidade e elegância do corpo, terminado apenas num final de médio comprimento. Aconselho o seu consumo apenas daqui a um par de anos, e penso que estou a ser simpático... Finalmente, o Solista (7,45 € na loja da DeltaQ - Atrium Saldanha) cumpriu as expectativas, aromas pautados pela discrição, algo frutado, corpo delgado, um conjunto menos apelativo que os anteriores.
Conclusão, os monovarietais de Antão Vaz parecem adaptar-se bem à evolução em garrafa, num estilo semelhante ao que sucede com alguns monovarietais de Chardonnay, por exemplo. Será prematuro consumi-los muito novos, sendo aconselhável um período mínimo de espera de cerca de 2 a 3 anos após o ano de colheita (pelo menos). Neste caso, como em muitos de que me tenho apercebido recentemente, quer em vinhos brancos quer em vinhos tintos, a espera é francamente compensatória! E este não é um dos maiores e mais prazenteiros desafios que os enófilos enfrentam? A decisão sobre a altura certa para colocar à prova determinado néctar? É a magia do mundo do vinho...
Miguel, a decisão de colocar á prova determinado néctar é sempre subjectiva. Nestes casos, em que a casta Antão Vaz, tem um comportamento que se coaduna com alguma espera e paciência, pode ser prematura ou não. O Dolium era um desses casos. O meu exemplar, tão cedo não vê a rolha aberta. E ao "comparares" exemplares desta casta, talvez fosse interessante comparares outras de branco. Alvarinho, Encruzado e Arinto eram capazes de dar algumas provas interessantes.
ResponderEliminar