Muitas vezes me perguntam qual será para mim o melhor vinho que já bebi, o vinho de que gosto mais, o melhor vinho até aos 10 €, e assim por diante. Como percebem facilmente, nenhuma destas perguntas tem resposta fácil, nem simples, uma vez que o tema do vinho é extraordinariamente complexo. Tento sempre fazer com que os meus interlocutores limitem a pergunta a uma região do país, a um intervalo de preço, ou qualquer outra característica que me permita situar a resposta de uma forma mais ou menos satisfatória, e mesmo neste caso indico sempre um conjunto de 5 ou 10 referências que reúnem a minha preferência, pois é muito dificil limitar a escolha a um ou outro vinho.
Se me perguntassem qual o estilo de vinho branco que prefiro, se pudesse escolher, a resposta recairia invariavelmente sobre a utilização de Encruzado (na região do Dão), Arinto, Chardonnay e algum Antão Vaz (as minhas castas brancas favoritas), com vinificação em barrica e estágio sobre borras finas (batônnage), para tornar o vinho estruturado, gordo e algo untuoso. São bons exemplos destes estilos algumas dezenas de monovarietais de Encruzados do Dão (Quinta Mendes Pereira, Quinta do Perdigão, Quinta dos Roques, Quinta da Fata...), o Pêra-Manca Branco (Antão Vaz e Arinto - Fundação Eugénio de Almeida), o Morgado de Santa Catherina (Wine Ventures - Quinta da Romeira), o Cova da Ursa (Bacalhôa Vinhos), os Reserva Branco da Herdade dos Grous (Antão Vaz, Verdelho e Viognier), da Herdade do Perdigão (Antão Vaz 100%) e a lista continua...
Para além destes que mencionei, um vinho está sempre no meu imaginário, desde que tive a felicidade de participar numa prova realizada na Garrafeira Nacional, à cerca de 4 anos e dirigida por Osvaldo Amado: trata-se do Sublime Branco da Quinta dos Abibes. A Quinta dos Abibes é uma pequena propriedade (10 hectares) adquirida em 2003 pelo Prof. Francisco Batel, que se situa no concelho de Anadia (freguesia de Aguim - região demarcada da Bairrada) e que conta com o apoio à enologia de Osvaldo Amado, reputado enólogo que dirige com grande mestria operações de grande dimensão como as da Dão Sul - Global Wines, ou de menor dimensão, como a Quinta da Rede (região de marcada do Douro) por exemplo. Todos os vinhos produzidos na Quinta dos Abibes exibem uma qualidade superior, dos espumantes aos tintos, passando pelos magníficos vinhos brancos.
Como grande adepto deste Sublime Branco da Quinta dos Abibes, não hesitei em resgatar uma garrafa das prateleiras do supermercado Apolónia na Guia - Albufeira, onde estive recentemente para um pequeno período de férias. Não é um vinho barato (custou-me 19,90 €), e em Lisboa poderão encontrá-lo na Garrafeira Nacional (20,40 €) ou na garrafeira Coisas do Arco do Vinho (19,85 €). Esta garrafa que consumi agora é da colheita de 2010, e o vinho está em excelente forma: o nariz é muito complexo, com as sugestões amanteigadas envolvidas pela fruta tropical madura (manga), notas citrinas (limão suave) e ligeiro floral. Elegante, misterioso e sedutor. A boca gorda revela um vinho encorpado com estrutura densa, mas precisa, envolvente e saborosa. O final é muito longo e levemente especiado.
Há muito tempo que esperava voltar a beber este vinho, e foi com muito prazer que o fiz novamente alguns anos depois da última vez. O Sublime Branco da Quinta dos Abibes mantém-se como umas das minhas referências no que a brancos portugueses diz respeito, e o perfil do Arinto fermentado em barrica é também um dos meus favoritos. Se puderem experimentem, eu vou tentar arranjar mais algumas garrafas em breve porque são estes vinhos que me fazem sorrir em muitos momentos. E há prazeres sem preço...
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