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Vinho ao Vivo 2015

Ser diferente não é mau. Ser diferente ás vezes implica saber ou querer pensar fora das coisas pré-estabelecidas, convenções onde claramente, quem pensa e actua diferente não se insere.

No mundo do vinho, onde por muito que se apregoe que é na diferença estará a fortuna, só se vê projectos iguais, seja aqui neste rectângulo de terra roubado ao Atlântico ou nos antípodas deste planeta.
á sombra do Padrão dos Descobrimentos, este local é épico...

Por muito que os ditos opinion-makers reclamem para nós o título de um dos mais interessantes locais do planeta a fazer vinho, seja pela quantidade parva de castas únicas que possuímos (mas que não utilizamos sequer 1/4 delas...), pelo clima, pelo terroir... seja lá o que for, só vejo coisas iguais.

Por isso, é sempre bom e salutar, poder desfrutar de um evento que foi pensado, imaginado se quiserem, dentro desta premissa, que todos apregoam, mas poucos podem(ou querem ...) cumprir.

A diferença.

Sendo certo que hoje em dia Lisboa é um paraíso para os amantes do nobre líquido (não deve haver dia, que não haja provas comentadas, apresentações de novos produtores ou colheitas...), não deixa de ser triste que dois eventos de importância igual em que estão representados alguns dos pólos opostos das realidades vínicas portuguesas e até europeias, ocorram no mesmo dia.
 
Neste momento o consumidor é que escolhe. E escolher um em detrimento do outro não quer dizer que se escolhe o "mainstream" aos "independentes" ou vice-versa. Mas, na minha opinião, um e outro evento têm óbvias qualidades. Podiam era ter escolhido dias diferentes, não?

Cantina Giardino, da Campania. Dos vinhos mais diferentes que provei. Não é para todos...

O Vinho ao Vivo, que ocorre no espectacular Restaurante/Esplanada Á Margem, é o evento que se tem de ir, se a ideia é provar coisas diferentes. Nós que somos tão chauvinistas quanto qualquer outro país produtor de vinhos, achamos que fazemos os melhores vinhos do mundo. De certeza que não somos.

Mas é bom vir um evento deste género e mostrar que um Nebbiolo pode ser tão elegante como uma Touriga Nacional, que o Alvarinho (ou Albariño, como queiram...) pode ser um grande vinho de guarda e que um Cremant pode ser melhor melhor que um Champanhe e tão bom quanto um bom Espumante.


Os magníficos e elegantes vinhos Rinaldi, Itália
A ideia prevalecente é mostrar o que a terra dá, o dito e famoso Terroir. Seja a fazer 300 garrafas ou 3000, os vinhos que provei na tarde/noite de sábado foram um abre olhos, um afinar de agulhas que não me arrependo absolutamente nada. Bebi Riesling de grande qualidade, feito na Alsácia, deliciosos Barolos e Nebbiolos com uma suavidade e elegância a lembrar os grandes Bairradas, que afinal estavam logo ali ao lado e neste caso literalmente.


Domaine Meyer-Fonné(Alsácia), Tiago Teles e Carlos Campolargo. Três produtores muito diferentes...
 
Sejam Biodinâmicos ou mesmo Biológicos, o que interessa é o vinho. E a paixão e o cuidado que é nele colocado. Uma tarde/noite em que a conversa fluiu em quatro línguas diferentes, ás vezes as quatro ao mesmo tempo, uma coisa era evidente a todos os produtores: Orgulho. 

Estamos a falar de homens e mulheres que escolhem muitas das vezes a via mais difícil, mas ao mesmo tempo claramente mais satisfatória. Orgulho num trabalho bem feito, implica que eu, enquanto consumidor e espécie de crítico (e não são todos os consumidores, críticos também?) fico muito satisfeito por constatar as expressões de regozijo, ao entenderem que eu estou muito satisfeito e ao mesmo tempo intrigado.
 
Por tudo isto e algo mais, este evento é necessário, crucial mesmo para entender o moderno mundo do vinho. Um grande e muito honesto obrigado ao Nadir Bensmail e á Silvia Mourão Bastos, por transportarem a sua paixão e bom gosto para uma esplanada á beira Tejo e deixar-nos deleitar com o sol, boa companhia e magníficos vinhos


Marcial Dorado, um galego nos Vinhos Verdes...
...produtor da garrafa que trouxe comigo, um magnifico Alvarinho com 12 anos...

1 comentário:

  1. Amigo Pedro, o artigo sobre o Vinho ao Vivo 2015 permite vislumbrar o principal foco do evento, para todos os que ainda não conhecem aquele que é para mim o evento vínico mais diferente que podemos encontrar ao longo de todo o ano em Portugal. Para um enófilo é um deleite a degustação desta diversidade de referências em meia dúzia de horas, onde confirmamos as premissas que bem conhecemos: de que em Portugal fazemos grandes vinhos (alguns) e de que fora de Portugal existem também grandes vinhos (alguns). O consumidor fica a ganhar com a realização deste evento, ao qual o Copo Meio Cheio deseja longa vida...

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