A Quinta de Lemos é uma propriedade que se situa na região demarcada do Dão, mais precisamente a sul, nas encostas da sub-região de Silgueiros, entre os 350 e os 400m de altitude. A quinta tem 50 ha de área, metade dos quais de vinha e 8 ha de olival. Os solos são arenosos de origem granítica (75% granito, 20% xisto), não há qualquer rega e a vinha influenciada pelo clima atlântico encontra-se sob um programa de protecção integrada (está interdita a aplicação de herbicidas).
A produção de vinho é executada de modo totalmente artesanal, resultando num volume médio de 3.000 litros por hectare. A vindima manual das castas autóctones da região decorre todos os anos entre Setembro e Outubro: Touriga-Nacional, Alfrocheiro, Jaen e Tinta-Roriz nas tintas, Encruzado nas brancas. O enólogo Hugo Chaves proporciona aos vinhos uma fermentação maloláctica em barricas de carvalho francês durante 18 meses, a que se segue um segundo estágio em garrafa por um período mínimo de 12 meses. Esta é uma conjugação invulgar de opções, que condiciona o aparecimento dos vinhos ao nível comercial mais tarde do que é comum na esmagadora maioria dos produtores. Uma postura que se saúda, obviamente, mas também é preciso perceber que poucos terão a possibilidade de manter tantas colheitas "em casa" sem o retorno financeiro mais imediato... Também é verdade que apenas com uvas e vinhos de elevado nível é possível esta aposta, e a Quinta de Lemos está indubitavelmente na linha da frente dos vinhos portugueses actualmente, com o reconhecimento internacional a ser cada vez mais alargado.
A apresentação dos 7 vinhos da nova colheita de 2010 decorreu mais uma vez no ambiente ímpar da Delidelux, com o Tejo ali mesmo à frente a dar as boas-vindas a mais uma tarde com grandes vinhos produzidos em Portugal. A presença de Eduardo Figueiral (área comercial), de Hugo Chaves (enólogo) e ainda de Diogo Rocha (o Chef residente do restaurante Mesa de Lemos, na Quinta de Lemos), abrilhantaram toda a apresentação da qual resultou uma tarde memorável.
Foram provados 8 vinhos, primeiro os monocastas Alfrocheiro, Jaen, Tinta-Roriz e Touriga-Nacional, depois os blends Dona Santana, Dona Louise e Dona Georgina, antes do branco Dona Paulette 2012 que invulgarmente finalizou a prova. Para acompanhamento dos diversos momentos da prova, algumas criações do Chef brindaram os presentes: pastéis de bacalhau, taco de atum, robalo no forno (extraordinária a textura e sabor do peixe naquele que foi para mim o melhor prato da tarde), cabrito estufado e ainda o magnífico bombom de frutos vermelhos.
Nos vinhos, a prova dos monocastas revelou estilos bastantes diferentes: o Alfrocheiro (18 €) menos expressivo, mais contido, o Jaen (18 €) envolvido num delicioso bouquet de fruta vermelha bem madura e extraordinariamente comunicativa, o Tinta-Roriz (18 €) novamente num estilo mais sério, mais clássico do Dão (quase rústico nos taninos e no corpo), e finalmente um Touriga-Nacional (20 €) impressionante, com estrutura, taninos, aromas e paladar a revelarem um equilíbrio verdadeiramente notável. Nos blends, o Dona Santana (13,50 €) fica a perder para os outros dois tintos, se o Dona Louise (12 €) apresenta uma fineza aristocrática impressionante, o topo de gama Dona Georgina (34 €) tem tudo, de uma complexidade absolutamente surpreendente. O único branco produzido na propriedade (Dona Paulette) é também uma enorme surpresa, longe do registo que conhecemos da maioria dos monovarietais de Encruzado da região do Dão, gordo, com muito volume, menos exuberante nas notas minerais que vulgarmente atribuímos à casta, mais mais complexo e misterioso, harmonizou com queijo da serra para terminar a prova, já a noite tinha caído na esplanada da Delidelux.
A Quinta de Lemos está (muito) bem e recomenda-se, e da parte dos enófilos resta-nos felicitar toda a equipa que consegue estes resultados finais, esta qualidade acima de toda a prova. Que possamos continuar a desfrutar destes vinhos únicos no Dão e em Portugal, por muito e longos anos!
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