Isto de se gostar de vinho, discutir vinho e coleccionar vinho tem muito que se lhe diga.
Desde que embarquei neste filme, que já não consigo equacionar as férias no habitual retiro beirão, sem uma ocasional escapadela ás muitas e quase todas boas, adegas da região.
Quase á porta de casa, a Quinta dos Termos. Um bocadinho mais para baixo, a Adega Cooperativa da Covilhã, que faz um Garrafeira dos Sócios brutal.
Se se quiser embarcar em viagens um pouco mais longas, mas nada de descomunal, temos a pouco mais de 90 kms a norte, Vila Nova de Foz Cõa. E aí, terras do Douro Superior, a coisa aquece e de que maneira. Vale Meão, Casa da Palmeira, as Quintas do projecto Duorum, as mais emblemáticas da Ramos Pinto... é uma infinidade de grandes casas e rótulos que fazem sonhar.
Mas hoje o périplo vai para outras bandas, um pouco mais para sul e para oeste. Vamos ao eixo Bairrada-Dão.
A minha epopeia pessoal na visita á Quinta das Bágeiras, só por si dava um post, mas não vai ser hoje. Podia falar das magnificas paisagens do Luso, do esplendoroso Palácio do Bussaco(que segundo consta, tem alguns vinhos brutais...) da incrivel simbiose entre o Leitão da Bairrada (que tão poucos restaurantes sabem fazer na perfeição...) e os espumantes da região. Mas não vou fazer de guia turistico, embora considere que na sua grande maioria, provar alguns néctares que nos fazem sonhar na origem e servidos na sua maioria pelo produtor, é uma coisa deslumbrante.
Hoje falo outra vez da influência de Dirk Niepoort, nas minhas escolhas pessoais de vinho.
Como muitos, recebo a newsletter dos projectos Niepoort e algures por esta altura, no ano passado, uma newsletter com o texto redigido pelo próprio, deixou-me intrigado.
O senhor Niepoort, raramente usa da própria palavra, para apregoar algo na internet, portanto uma mensagem dele, é um evento.
Falava de um jantar entre amigos, muitos vinhos provados e analisados, mas de uma inesperada estrela. Um Bairrada. Garrafeira, por sinal. De 1982.
Em prova directa com alguns Barolos italianos e famosos da Borgonha, um Garrafeira da Bairrada, de um desconhecido produtor(desconhecido, pelo menos para mim...) deixou todos de queixo caído. Depois daquela prova, Dirk Niepoort “correu” para a Bairrada, tentando descobrir o que se passou, se havia mais disto, onde andava este senhor, Dores Simões de seu nome.
Descobriu-o e trouxe de volta para a Quinta de Nápoles, umas dezenas de caixas de Garrafeiras da Quinta do Canto, colheitas 1994 e 1995. E uma ou outra de 1990, mas essas quase todas ficaram para reserva pessoal.
Provado e testado, colocou um apaixonante texto na newsletter da Niepoort-Projectos e entusiasmou muito boa gente, eu incluído.
Convenci o Miguel, a ir a jogo comigo e mandar vir umas quantas de ambas as colheitas. Uma de cada ano, para provar e guardar.
Algures no final do verão/principio do Outono de 2011, tive a minha sogra e os meus cunhados em casa para jantar. Decidi uns dias antes, que dado o jantar (Entrecosto assado no forno, com castanhas ...) seria um desses Garrafeiras a acompanhar o repasto. Tinha lido que o senhor Niepoort, aquando de um evento na Quinta de Nápoles, tinha aberto uma de 1990 e decantado-a, 24 horas antes!
Disse para comigo “não sejas parvo, tu não vais conseguir manter a qualidade durante 24 horas, reduz o prazo” e em boa hora o fiz. Abri-o e decantei-o ás 10 da manhã e foi servido, nas melhores condições possíveis, por voltas das 20 horas. Portanto, umas 10 horas no decanter.
Eu que sou tão contra o sistema de pontuação e a influência dos críticos profissionais na escolha do que são grandes néctares ou maus néctares, sou obrigado a dar uma pontuação/apreciação.
Foi só o melhor melhor vinho que alguma vez provei.
Já meti ao bucho Vale Meão, Mouchão, Redomas e Charmes. Tenho muito boas memórias de um Pinot Noir alentejano, que eu sei que o Miguel o tem nos píncaros. Tenho muitas saudades de um misto de Tannat e castas locais, que compõem o lote desse portento setubalense, que é o Hexagon. De 2003, de preferência. Até de um Poeirinho, da Quinta dos Cozinheiros, tenho saudades.
Mas nunca tinha bebido nada daquilo.
Elegante, entra devagar tanto no aroma, como no palato. Quando se dá por ele, as especiarias tomaram conta da loja, dominaram o fim de boca, como se ... imaginem, por um momento, correr descalço numa carpete de veludo. É o melhor elogio que posso fazer.
A Baga, domada como estava depois de 17 anos e com a ajuda de Tinta Pinheira, faziam uns 12.5% de alcóol, sinceros e impressionantes
Não uso os considerandos de outros críticos profissionais ou não profissionais, não tenho a sensibilidade para usar esses termos, sem me começar a rir. Deste nunca mais me esqueço. É um bocado como o primeiro beijo. Pode ter sido uma porcaria, mas nunca mais se esquece.
Não foi, de todo, este o caso.
Nota final – está a venda nos projectos da Niepoort, por uns módicos 11€. Por este preço, é ouro líquido!
Não uso os considerandos de outros críticos profissionais ou não profissionais, não tenho a sensibilidade para usar esses termos, sem me começar a rir. Deste nunca mais me esqueço. É um bocado como o primeiro beijo. Pode ter sido uma porcaria, mas nunca mais se esquece.
Não foi, de todo, este o caso.
Nota final – está a venda nos projectos da Niepoort, por uns módicos 11€. Por este preço, é ouro líquido!
Meu amigo :-) Sabes que embarco sempre que posso nestas aventuras... Depois de ler o teu texto, estou empolgado para abrir a minha garrafinha de 94 também... Deixando a de 95 em repouso ainda. Mas tem de ser numa harmonização bem direccionada, que os Baga desta idade não vão em cantigas delicadas e suaves... Assim de chapa parece-me que um bom assado no forno será companhia ideal, uma boa posta de bacalhau assado deverá cair que nem ginjas! Fica atento que quando for altura, terás mais um texto sobre este Bairrada que como dizes, é uma pequena pechincha nos Projectos da Niepoort...
ResponderEliminarDispenso o Bacalhau, porque como saberás, devo ser o português que menos gosto de bacalhau... enfim... é como diz o texto, Miguel, entrecosto assado no forno com castanhas. É certinho.
ResponderEliminarOlá, Pedro.
ResponderEliminarObrigada por postares este link no Facebook do ETOVL. Provei o Dores Simões Garrafeira 1994 no Sábado e estava fabuloso. Contudo, é o 1995 que detém o meu coração. Posso dizer que é um dos meus vinhos favoritos. Não provava Dopres Simões 1995 desde Janeiro e abri uma garrafa faz agora umas duas semanas. Pois asseguro-te que este o Dores Simões 1995 está agora no seu pico. Senti uma diferença e uma melhoria brutais. Já estão a caminho mais duas, por causa das coisas.
Já ganhaste mais uma leitora, Pedro. Para mim, quem gosta de Dores Simões é porque tem o palato ensinado! Entretanto no ETOVL sairá a minha crítica do 1995.
Boas provas,
Rita