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Visita ao Sidónio de Sousa - Parte 2

À Região da Bairrada associamos facilmente (pelo menos) duas coisas, leitão e vinho. Foi precisamente desta feliz associação que resultou um grande dia, temperado com o essencial condimento da vida: a amizade.
 
O almoço ficou a cargo da Casa Vidal, localizada em Aguada de Cima, uma das duas "mecas" para os entusiastas conhecedores do Leitão à Bairrada (a outra é o Mugasa, em Fogueira), e mais uma vez os créditos não ficaram em mãos alheias, o leitão tratado com mestria e nota (muito) alta para as magníficas batatas fritas em palitos. A carta tem boas opções no que toca a espumantes bairradinos e ficou dado o mote para uma tarde memorável. O plano estava definido: visita às vinhas, adega e ainda prova de alguns vinhos de um dos clássicos produtores da região: Vinhos Sidónio de Sousa. Esta foi ainda a primeira visita "oficial" em nome do Blog Copo Meio Cheio, o que tornou a ocasião ainda mais especial.

À nossa espera à porta da adega, com a boa disposição de quem gosta do que faz, estava Paulo Sousa, o homem por trás dos vinhos Sidónio de Sousa e alma do projecto. Apresentação e introdução passadas, seguimos de imediato para o local onde nascem estes vinhos bairradinos, são 11 ha de vinhas bem cuidadas onde a Baga centra sem dúvida as maiores atenções, mas onde também o Merlot (dá origem a um monovarietal) e ainda outra parcela de castas brancas (essencialmente as esperadas Maria Gomes e Bical), contribuem para o portefólio disponível. As vinhas situam-se a cerca de 5 minutos da adega (de carro) e encontram-se numa enorme clareira, onde vários proprietários têm as suas parcelas. A visita foi paciente, didáctica, dando a conhecer o muito trabalho envolvido (relacionado com a extensão das terras, tipo de solos, tratamentos) e o conhecimento necessários para fazer nascer grandes vinhos. O tempo ajudou e fez desta parte da tarde o aperitivo perfeito para o que se havia de seguir.
De volta à adega, a visita continuou pela zona onde pontificam os lagares, algumas cubas de inox e os indispensáveis tonéis, todos responsáveis por receber e transformar os diversos néctares que fazem as delícias dos enófilos. No piso inferior, a área de recepção das visitas dá-nos o primeiro o impacto da baixa temperatura, refrescante, abrindo depois todo o cenário de uma grande mesa de madeira onde havia de decorrer a prova de vinhos, e onde habitualmente se desenrolam os almoços em que o leitão do Mugasa reina sem concorrência. Há arcadas com garrafas premiadas um pouco por toda esta zona, com ligação ao corredor de estágio dos espumantes (engarrafados), e ainda à Garrafeira Particular de Paulo Sousa... O portão abre para um pequeno corredor recheado de grandes colheitas, garrafas antigas, magnuns, anos de excepção como 1997 estão representados, mas há mais tesouros em todas as prateleiras conservadas pelo tempo que passa aqui muito devagar, o enófilo entra em êxtase...


Sentados à mesa, a prova inicia-se com os inevitáveis Espumantes. Desfilaram o Rosé 2010, de carácter simples mas afinado, o Branco 2010, versátil, pleno de acidez e bastante gastronómico, e um dos vinhos mais impressionantes de toda a prova: o Baga Super Reserva Bruto 1999. Faltam predicados para esta surpresa, aroma a fruta bem madura, delicado e cremoso na boca, algo encorpado, bolha pouco interventiva mas viva, final longo, um espumante muito elegante, serve pratos mais delicados e exigentes, um achado!
Avançámos em seguida para os Tintos atualmente no mercado, o Merlot 2008 e o Reserva 2008 (100% Baga), que mostraram estilos e perfis muito distintos. O primeiro destina-se a um consumo mais imediato, sem grandes compromissos, frutado, pouco encorpado, tem na simplicidade a sua grande arma... Quanto ao Reserva 2008, é outro filme! Pode ser guardado desde já (opção aconselhável como verão), mas apresenta-se em óptima forma para ser bebido agora, a fruta vermelha ainda não completamente madura nos aromas (framboesas, ameixas), complexo e estruturado, final de boa persistência, muito gastronómico.
A partir deste ponto, a prova levantou voo para os domínios superiores da Baga e da sua excelência trabalhada por quem lhe conhece os segredos... Sem ser necessária a assertividade dos Garrafeiras, que o Copo Meio Cheio havia provado no Vinho ao Vivo 2012 (cortesia d'Os Goliardos), bastou conhecer os Tintos Reserva de 1997, de 1991 e ainda um Bairrada Tinto de 1985 (não, não me enganei na data!!) para perceber o que podem ser verdadeiros vinhos bairradinos, se lhes dermos o tempo devido, tratou-se de um verdadeiro privilégio para todos os presentes. O 1997 é um verdadeiro assombro, fabuloso no equilíbrio de conjunto, impositivo em todos os predicados, num momento de consumo notável e ainda com muito para dar em garrafa. O 1991 mostrou-se também em boa forma, embora menos encorpado e exuberante que o anterior, mas ainda com a acidez a proporcionar boa prova, final elegante. O Bairrada de 1985 é algo verdadeiramente à parte, associado de maneira muito particular à história desta família do vinho, é como um livro, que se desfolha lentamente e onde se saboreiam pedaços de tempo, momentos perdidos e memórias perenes. Mais uma vez, um verdadeiro privilégio.
 
A prova foi deliciosamente acompanhada de uma tábua onde pontificaram uma extraordinária broa e ainda uma chouriça caseira que pouco ficou a dever aos grandes vinhos provados. Uma tarde memorável, proporcionada por um grande homem da Bairrada, que mantém a tradição a um nível qualitativo de excepção. Vinhos sem concessões, a honesta espressão de uma região particular, a diferença que Portugal pode fazer no panorama vínico mundial.
 
Este artigo não poderia terminar sem um agradecimento sentido ao Sr. Paulo Sousa, pela hospitalidade sem par e momentos únicos proporcionados. Um grande bem-haja!!
 
 

 
 
 
 


  
 








1 comentário:

  1. Tive pena de não poder acompanhar esta prova. Só me ocorre chamar-te nomes. Obrigado pelo Garrafeira de 2000. As triplas Magnums de 2005 é que eram bem compradas...

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