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(Afinal) O Dão Não é a Galinha dos Ovos de Ouro

Antes que os muitos defensores da região do Dão pensem em várias formas de me torturar por esta espécie de blasfémia, devo começar este artigo por dizer que nos últimos anos, venho defendendo a tese de que o Dão é a melhor região portuguesa ao nível da relação qualidade-preço, com vinhos excelentes a valores comedidos. Esta opinião não saiu beliscada após as duas experiências menos conseguidas que aqui vos venho reportar. Se dúvidas houvesse, argumentos diversos como Quinta da Fata Encruzado 2010, Pedra Cancela Malvasia-Fina - Encruzado 2011 (nos brancos), Quinta da Bica Vinhas Velhas 2007, Pedra Cancela Reserva 2010, Casa de Santar Touriga Nacional 2010, ou Casa da Passarela Vinhas Velhas 2008 (nos tintos), seriam mais que suficientes para convencer qualquer apreciador com dúvidas sobre o potencial desta extraordinária região vinícola.
 
No entanto, a verdade é que num espaço de três dias, tive duas desilusões que confesso, não esperava, e que me fizeram reflectir (sobretudo) acerca do momento ideal de consumo associado a alguns vinhos. Foi com muita expectativa que abri recentemente para um almoço de família uma garrafa de Vinha Paz Reserva 2007 Tinto (80% Touriga Nacional, 10% Tinta Roriz e 10% Alfrocheiro). Decantei o vinho cerca de uma hora e meia antes para que pudesse exprimir todos os seus predicados no momento da refeição, e a temperatura foi também alvo de acerto para que tudo estivesse perfeito. A verdade, é que se a cor exibida era atrativa (rubi brilhante), o nariz e a prova de boca não corresponderam às expectativas criadas ao longo de um par de anos... Aromas limitados na definição e na intensidade e sobretudo um corpo pouco presente, paladar com alguns frutos vermelhos mas mais uma vez a pouca intensidade a ser dominante, terminando o conjunto num final algo curto... Se a elegância e equilíbrio são a nota dominante nos grandes vinhos do Dão, aqui pareceu-me um vinho cansado, a que faltava alguma vivacidade e nervo!
 
Dois dias passados, desta vez num jantar com bons amigos, chegou a hora de abrir uma garrafa de Munda Touriga Nacional 2007 (100% Touriga Nacional), cujo tratamento foi em tudo semelhante ao descrito para o vinho anterior. No momento de consumo, a mesma sensação percorreu todos os presentes, nova desilusão... Aromaticamente pouco exuberante, ligeiro floral, e o mesmo corpo ausente numa prova com pouca tensão e final curto... A mesma frase ocorreu-me para este e para o caso anterior: "vinhos excessivamente redondos". Se têm alguma destas garrafas em casa, penso que a harmonização com comida é facultativa, pois “gastronómico” não é o predicado mais adequado...

Após estas experiências pouco motivadoras, com vinhos em que depositava grandes expectativas e em que fiz ainda algum investimento financeiro, refleti sobre as possíveis causas destes fracos resultados. A primeira possibilidade salta à vista: ambos os vinhos são de 2007. Será que no Dão este ano vitícola foi mais complicado para obter vinhos com boa capacidade de envelhecimento, com baixa acidez natural e poucos taninos? Uma vez que a base é a Touriga Nacional em ambos os vinhos, será que a casta não se expressou da melhor forma? Outra possibilidade seria a da evolução na minha garrafeira sem as condições ideais ter afetado ambas as garrafas, mas se é verdade que já tenho o Vinha Paz em casa há cerca de dois anos, o Munda foi adicionado apenas recentemente, por isso...

Como tudo o que acontece neste mundo do vinho, esta foi apesar de tudo uma experiência enriquecedora, e fez-me analisar com maior profundidade os vinhos que tenho guardado nos últimos tempos. Por exemplo, estão já na calha para abrir tintos como Casa de Santar Touriga Nacional 2007 ou Casa de Santar Reserva 2008, ambos dos meus favoritos do Dão. Espero que nestas ocasiões o paradigma dos excelentes vinhos da região saia reforçado!
 

 
 
 

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